Você já parou para pensar quais fatores influenciam o seu bem-estar? Ouvimos tanto falar sobre bem-estar físico, emocional, social, econômico, que isso pode gerar uma dificuldade em entender esse conceito. Então vamos começar do começo: a definição de bem-estar diz respeito ao “estado de satisfação plena das exigências do corpo e/ou do espírito”. Sempre que algo envolve o termo satisfação, isso quer dizer que existe um componente de avaliação de algo e alguma emoção. Para nos sentirmos satisfeitos geralmente avaliamos algo positivamente e temos emoções positivas em relação à temática.
Um fato interessante sobre bem-estar e saúde é que a Organização da Saúde, define saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade.” Essa definição impactou muito a ciência, como ela entende e pratica a saúde. Nessa definição, a saúde passa a ter um viés super importante de como o indivíduo avalia e se sente em relação ao seu corpo e sua própria vida. Possuir algum diagnóstico não quer dizer que você não tenha saúde. Então a saúde precisou se reinventar a partir da perspectiva individual sobre o que é estar saudável.
E como a Psicologia se relaciona com o bem-estar? Pois bem, a Psicologia se relaciona com o bem-estar a partir do momento que esse conceito envolve avaliação da satisfação com a própria saúde e emoções que envolvem essa satisfação. Além de, é claro, se relacionar com a nossa saúde em seus aspectos emocionais. Mesmo assim isso pode envolver muita coisa, não é?
A Psicologia começou a enfatizar mais o seu estudo do bem-estar no início dos anos 90 e cunhou essa nova área de Psicologia Positiva. Atualmente essa área tem crescido bastante e feito descobertas preciosas para o campo da saúde mental e do bem-estar. A Psicologia Positiva mergulhou nesse tema e hoje compreende que vários fatores que vão muito além da presença ou não de alguma doença interferem na satisfação que temos com a própria vida. Alguns deles são: autoestima, relacionamentos saudáveis, autoaceitação, perdão, gratidão, esperança, emoções positivas.
Um observação importante é que, por passar pelo critério individual, os fatores que influenciam o nosso bem-estar podem ser diferentes para cada pessoa. A Psicologia Positiva, entendendo essa problemática, dividiu o bem-estar emocional em duas grandes categorias: subjetivo e psicológico.
O bem-estar psicológico foi um termo cunhado por Ryff e surgiu de vários estudos sobre o que seria um funcionamento positivo e ótimo no âmbito de vista psicológico. Resumidamente esse conceito diz respeito a 6 dimensões que são essenciais para o alcance do bem-estar psicológico: autoaceitação, propósito de vida, dominío sobre o ambiente, relações positivas, crescimento pessoal e autonomia. Ryff criou essa teoria, pois ao notar as pessoas definindo e avaliando o próprio nível de bem-estar, percebeu que os critérios adotados se relacionavam com a busca de prazer, emoções positivas e ausência de emoções negativas. Sendo que uma vida bem vivida vai muito mais além do que sentir prazer o tempo todo, não é mesmo?
Mas a definição de bem-estar pelo próprio indíviduo tem se mostrado relevante no campo da saúde mental. Por mais que focar na satisfação pessoal apenas não seja garantia de um bom funcionamento psicológico, isso se relaciona com indicadores importantes de bem-estar, como redução de hormônios do estresse, desenvolvimento de novas estratégias de enfrentamento de situações desafiadoras, diminuição da ansiedade e depressão, relacionamento saudáveis, dentre outros quesitos. Focar no bem-estar subjetivo é importante para a sua felicidade e para sua saúde mental, lembrando que é importante equilibrar e não buscar apenas o prazer imediato para construir sua felicidade.
Por isso é importante entender o que é o bem-estar subjetivo. Esse conceito envolve a avaliação e o nível de satisfação do indivíduo com a própria vida. Nesse campo os estudos focam em compreender o que aumenta o bem-estar e quais são os fatores importantes que influenciam a nossa avaliação de bem-estar. Inicialmente os estudos focavam na satisfação com a vida, altos níveis de afeto positivo, e baixos níveis de afeto negativo. Ora, muitas críticas surgiram, e hoje sabemos que os afetos negativos são importantes para nosso bem-estar e inclusive foram encontrados com pilares para que a positividade (de acordo com a ciência ^^) aconteça. Também se descobriu que os afetos positivos e negativos não se anulam e nem são forças opostas, na verdade eles são independentes e cada um possui a sua importância.
Outras teorias surgiram sobre o bem-estar e estudos corroboram para que a teoria de Martin Seligman, o pai da Psicologia Positiva, seja considerada uma nova forma de olhar para o bem-estar subjetivo. Essa teoria se chama PERMA, e nela os pilares para o bem-estar são: emoções positivas, engajamento, relacionamentos, significado e propósito e realização. Recentemente, Paul Wong, um dos autores mais influentes da atualidade sobre o tema, têm feito reflexões pertinentes sobre o que de fato influencia o bem-estar e como a cultura tem um peso que deve ser considerado na forma com a qual o indivíduo enxerga a própria vida. Neste ano o autor listou os tipos de bem-estar subjetivo e eu traduzi aqui para vocês:

Essa lista nos permite refletir sobre como diversos fatores influenciam o nosso bem-estar emocional. E que aspectos como a inserção na comunidade, política, espiritualidade, situação econômica também são relevantes para nossa satisfação com a vida. Resumindo: não depende só e unicamente de você o seu nível de bem-estar. Claro que podemos adotar hábitos e rotinas que aumentam o nível de satisfação com a vida e nossas emoções positivas, mas tá tudo bem se você não se sentir a pessoa mais feliz do mundo depois disso. Existe muita coisa envolvida nessa dinâmica. Cada passo seu conta, e cada pequeno avanço é importante, mas não é saudável se cobrar por estar feliz o tempo todo, ou se culpar se coisas que fogem do nosso controle afetam a nossa felicidade. Por que na verdade elas afetam sim.
Que a cada dia você foque pelo menos um pouco no seu bem-estar, mas não caia nas armadilhas de que isso envolve sorrir o tempo todo ou não se abalar com o que acontece à sua volta. Foque no que é possível de fazer e aceite o que não é. As emoções desconfortáveis fazem parte desse processo, mas isso fica pra outra hora. E bem-estar a todo custo não é bem-estar.
Com carinho,
Paula.