Atire a primeira pedra quem nunca errou ou magoou alguém. E quando esse alguém é uma pessoa importante para nós, como é difícil lidar com essa emoção de culpa, não é mesmo? E quantos de nós já fomos traídos, magoados, ofendidos? Esse sentimento de ressentimento e mágoa também não é algo bom de se carregar. Ele pode inclusive dificultar que experimentemos emoções positivas e sigamos em frente. Alguns chegam inclusive a desejar vingança ou reparação pelo dano causado, de forma que isso prejudica o andamento de suas vidas.
A verdade é que todos nós sofremos feridas e traições. Escolher perdoar é uma maneira de liberar a angústia que surge repetitivamente na memória ao lembrarmos desses incidentes dolorosos. O perdão não consiste em uma única atitude, mas sim em um processo longo e difícil que requer abrir mão do desejo de vingança e reparação, oferecendo gentileza e compaixão ao causador do ressentimento.
Quando pensamos na evolução da espécie humana podemos imaginar que características ligadas à vingança podem estar associadas a evolução. Isso é verdade. A busca por vingança contribuiu para desenvolver um senso de controle de agressividade, pois se uma pessoa fosse punida ou vingada, isso faria com os outros procurassem controlar esse impulso para se preservarem. Mas o que também é verdade e muita gente não imagina é que o perdão é uma característica evolutiva da espécie humana e tem um papel fundamental na forma como conseguimos estabelecer vínculos e construir civilizações.
As pesquisas têm mostrado que pessoas que perdoam:
- Possuem um aumento do bem-estar e sentimento de felicidade,
- Menos risco de desenvolver hipertensão,
- Menos propensão a doenças cardiovasculares,
- Possuem relacionamentos mais significativos,
- Menos relatos de dores crônicas.
Primeiramente é importante que você compreenda o que não é perdoar. Perdoar NÃO É:
- Esquecer os erros,
- Abrir mão de demandas judiciais,
- Conviver com o agressor,
- Tolerar ou deixar passar uma ofensa,
- Justificar o erro,
- Se reconciliar com o ofensor,
- Ignorar as consequências dos erros,
- Dar o troco,
- Uma emoção.
Vários autores têm estudado sobre o perdão e qual é a melhor forma de praticá-lo. A verdade é que o perdão é um ato complexo e envolve o contexto dos acontecimentos e o manejo da dor de quem está disposto a praticá-lo. Os cientistas chegaram a um consenso de que perdoar envolve quatro aspectos. São eles:
- Aceitar que a ofensa aconteceu: consiste em abrir mão de mudar o seu passado e os comportamentos indesejáveis que aconteceram nele. Isso requer não incentivar lembranças que te causam mais mágoa e ressentimento e focar mais no seu presente e futuro.
- Reduzir a necessidade de punição ou vingança: a dificuldade de perdoar surge principalmente do desejo de que os outros sejam punidos ou sofram de alguma forma pelo mal que nos causaram. Um componente essencial do perdão é a redução desse desejo.
- Diminuir o comportamento de fuga: o comportamento de fuga, a depender do contexto pode ser entrar em contato com a dor, ou com o ofensor.
- Aumento da compaixão pelo ofensor e suas próprias dores: nesse caso a compaixão envolve reconhecer o sofrimento do outro e como sua história de vida o levaram a se comportar de forma errônea. Não é justificar o erro, mas reconhecer que existe um contexto e que existe uma humanidade no outro.
Ao meu ver, a compaixão é a peça chave na prática do perdão. Conseguir olhar para o ofensor e enxergar que ele possui limitações, dificuldades, dores, sem vitimizá-lo, é o que gera o engajamento na atitude de perdoar. Em situação de violação de direitos, como abusos, violências, crimes de modo geral, esse é o grande desafio. Nos deparamos com uma dor aguda que pode dificultar a compaixão. O importante é compreender que você não é obrigado a perdoar e que só deve praticar o perdão quando estiver pronto para fazê-lo. Gerar um desgaste emocional sem que você reúna recursos para lidar com essa dor não contribuirá para sua melhora.
Um fato importante sobre o perdão é que o ressentimento e a mágoa surgem de nos encontrarmos em uma situação de vulnerabilidade onde fomos vítimas do outro e incapazes de nos defendermos. Aqui podemos enfatizar a necessidade do se perdoar. Muitas vezes nos culpamos e não olhamos para nós mesmo com compaixão, acreditando que havia algo a ser feito para que a ofensa não acontecesse. Analise sua história, respeite suas lutas, abrace suas dores e reconheça que você fez o melhor que pode com as habilidades que tinha. Faça um compromisso consigo mesmo de não se colocar em situações parecidas no futuro. Escreva se necessário, cole na parede, e lembre-se que agora você é mais forte do que antes.
Quando paramos de nos culpar pelo que houve, aceitamos que a situação que aconteceu, e começamos a reconhecer que de agora em diante estamos comprometidos a não nos envolvermos em situações como a que nos magoou, estamos prontos para praticar o perdão. Perdoar envolve desenvolver e enxergar que você possui condições de se defender e que irá fazê-lo quando necessário. Perdoar é abrir mão de reviver as dores do passado e se abrir para uma nova história.
Aqui vão algumas dicas para te ajudar a perdoar:
- Se conecte com sua dor com gentileza e procure nomear o que não foi atendido, que necessidade ou desejo seu não foi suprido quando alguém te magoou. O que você queria ou esperava que não aconteceu?
- Olhe para você em seu passado com compaixão. Refletia como sua vida era naquele momento, quais conhecimentos você não tinha e como você enxergava às circunstâncias a seu redor.
- Reflita sobre o que mudou desde a ofensa até hoje: o que você aprendeu, a maturidade que adquiriu e a força que descobriu que tinha.
- Esse passo é o mais difícil. Se não se sentir confortável, não tem problema. Faça no seu tempo. Procure sinais de humanidade no ofensor: quantas vezes aquela pessoa sofreu, foi rejeitada, não teve acesso a condições saudáveis de vida? Como a história dela contribui para que ela se comporte dessa maneira?
- Faça um compromisso consigo mesmo de como irá se cuidar e agir diante de situações que te magoem. Como você irá se defender? O que é mais importante para você agora?
- Escreva uma carta de perdão para seu ofensor. Não é necessário entregar. Você pode rasgar, queimar, ou fazer outro ritual que te ajude a seguir em frente.
- No seu quarto, ou até mesmo em seu aparelho smartphone coloque lembretes, recados, se lembrando de como você é capaz, quais limites e valores são importante para você.
Lembre-se que perdoar não é uma obrigação, mas se a mágoa está dificultando que você acredite nas pessoas, merece ser amado, feliz ter sucesso, procure um psicólogo.
Com carinho,
Paula.
Ótimo texto maravilhoso, amanhã já tenho umas coisas pra perguntar sobre… kkk
Use e abuse desse espaço! É um prazer tirar suas dúvidas 🙂