Uma vez ouvi uma frase de uma professora que até hoje repercute na minha mente: o difícil não é começar, mas manter a mudança. Qualquer processo de mudança por si só envolve contradição. A necessidade de mudar surge justamente nesse espaço contraditório entre o que se é e o que se deseja ser. Apesar disso, a mudança não deixa de envolver esforço a partir do momento e da decisão de mudar. Manter a mudança também exige muito esforço.
O que te faz iniciar um processo de mudança é diferente do que te faz mantê-lo. As expectativas futuras são superimportantes no início do processo de mudança. À medida que se inicia a mudança, a discrepância entre onde estamos e onde queremos chegar diminui. Já a manutenção dos novos comportamentos se dá devido à satisfação que sentimos diante dos resultados alcançados. Agora, o que faz sairmos da estaca zero até o nosso objetivo final é a constância.
Quando falamos em constância, geralmente estamos nos remetendo à manutenção da mudança e consolidação de hábitos desejáveis. A ideia de que apenas 21 dias de manutenção de um novo comportamento o transforma em hábito foi bastante disseminada, mas na verdade, um estudo recente de Jane Wardle, da University College de Londres, publicado no European Journal of Social Psychology, afirma que para consolidar uma mudança comportamental é necessário 66 dias. Isso quer dizer que precisamos nos esforçar mais um pouco, mas adiciono que não precisa ser um processo penoso.
Identificar o que dificulta seu engajamento na mudança de comportamento é fundamental. O que observo muito é que a forma como nos relacionamos com os pensamentos influencia bastante esse processo. Geralmente damos muito razão aos nossos pensamentos. Não os questionamos e acreditamos que eles são uma verdade absoluta. Por exemplo: estou cansada demais para ir ao treino hoje. Esse pensamento muitas vezes não é questionado e simplesmente o seguimos no piloto automático. Quando poderíamos ter refletido: “mas eu dou conta de treinar cansada”. “Inclusive isso me dará uma noite de sono melhor”. Ou simplesmente o fato de compreender que você não precisa ser escravizada pelos seus pensamentos. Você pode simplesmente agir em contradição a eles. Mas o principal é compreender que a constância não começa necessariamente em nossa mente, mas no nosso comportamente. A constância não é um pensamento mas sim uma atitude. Ser constante é decidir seguir mesmo que isso implique ir contra seus pensamentos. Por vezes você não conseguirá mudar seus pensamentos, mas mudando seus comportamentos é provável que sua mentalidade mude.
Outro fator importante é a forma como definimos nossos objetivos, pois isso influencia em como nos sentiremos durante o percurso para alcançá-los. Gosto muito da classificação entre metas por evitação e metas por aproximação. Geralmente as metas por evitação são mais frequentes. Por quê? Porque elas dizem respeito ao que não queremos ser, ou não queremos mais fazer. A estipulação dessas metas envolve um processo de emoções negativas. Envolve evitar o que nos faz mal. Aqui vão alguns exemplos: parar de fumar, comer menos, não tirar notas baixas, não ficar desempregado, não ficar sozinho, não gritar com a família.
Já o estabelecimento de metas por aproximação busca definir como queremos nos sentir, ser, se comportar quando alcançarmos o que desejamos. Esse processo envolve a imaginação e emoções positivas que serão vividas durante o processo e até o seu fim. Quanto mais detalhes você conseguir imaginar sobre a sua mudança, melhor. Aqui vão alguns exemplos: ter mais saúde para brincar com meus filhos, ter músculos mais fortalecidos para fazer trilhas e acampar, conseguir um bom emprego através do meu currículo, ter um casamento feliz, ser um bom pai, uma boa esposa.
Percebe a diferença? As metas por evitação dizem respeito a quão distante você quer ficar da linha de largada, já as metas de evitação, o quão perto você quer estar da linha de chegada. Qual cenário te motiva mais?
Outros princípios super importantes que ajudam no processo de mudança são:
- Compreender que o erro não é o fim, mas parte do processo: Você está habituado uma vida inteira a agir de determinada forma, eventualmente retrocessos acontecerão. A jornada se faz de vários passos, por vezes daremos três e regrediremos um, mas isso não tira todo orgulho da caminhada. Isso faz parte do processo.
- O erro nos ensina a nos levantar de formas diferentes: O erro pode mostrar que você tem recursos emocionais que não imaginava e te ajudar a enfrentar os desafios futuros. Ter medo de errar ou de ter uma recaída é ter medo de crescer.
- Antecipe as etapas com foco positivo: em vez de pensar no que pode dar errado e como dará errado, imagine o que dará certo, o que é necessário fazer para que você alcance seu objetivo e floresça.
- Imagine como manterá os ganhos do seu processo de mudança: imagine como será o seu futuro quando a mudança estiver consolidada. Reflita sobre como suas forças, qualidade e recursos emocionais podem ser usados para que seus objetivos se tornem realidade.
- Pense em rotas alternativas: isso fará com que você sinta esperança mesmo que obstáculos surjam em sua trajetória. Mudar a rota não quer dizer mudar o objetivo final, mas saber lidar com os imprevistos da jornada. Imaginar rotas alternativas irá te fortalecer e não desanimar.
- Lembre-se de como você superou os obstáculos passados da sua vida: o que te ajudou a passar pelas adversidades? Que qualidades suas foram essenciais? Sua forma de pensar também constribuiu?
- Monitore com frequência o seu progresso: saber como está sua tragetória, como está seu progresso, e o que você precisa fazer para dar mais um passo em relação a sua linha de chegada é super importante para se manter motivado. Quando temos consciência dos avanços e dos ganhos do nosso processo de mudança, ainda que não tenhamos alcançado o objetivo final, isso aumenta a nossa motivação e ajuda a nos mantermos engajados. Algo que ajuda muito é dividir o processo em etapas, o até micropassos.
- Celebre as pequenas conquistas: comemore seja compartilha com seus amigos, entes queridos, redes sociais, ou em um momento especial. O que importa é não deixar passar em branco. É importante seu cérebro registrar que você está progredindo.
Mudar não é fácil, mas é possível, ajuda a manter nossa saúde mental, viver mais intensamente, com significado e florescer. A mudança faz parte da experiência humana é o que nos permite avançar. Mudar a forma como encaramos o processo de mudança tem o poder de transformar a nossa jornada mais leve. Esses passos descritos acima ajudam a reconhecer os aspectos positivos durante o seu processo e se manter mais engajado.
Você tem mais alguma dica que possa ajudar?
Com carinho,
Paula.