Você pode ter sido ensinada a não demonstrar raiva, ser agradável, meiga e ter se acostumado a não ter sua opinião sendo levada tão a sério como a das outras pessoas, principalmente dos homens. Você provavelmente já foi interrompida quando falava sobre um assunto que domina, mas outro homem achou que por ser capaz de pensar o saber dele era mais importante do que o seu. Talvez você tenha sonhado mais baixo do que gostaria porque não viu nenhuma mulher chegar onde você desejava.
Você pode ter aprendido a ficar calada quando é desrespeitada na rua, tomar cuidado com a roupa que veste e o horário que veste essa roupa. Ter cuidado para não provocar pensamentos libidinosos nos outros é algo que foi incutido na cabeça das mulheres a fim de responsabilizá-las pela incapacidade do homem controlar os próprios impulsos, enquanto as mulheres constroem um ideal de feminilidade baseado em se reprimir e seguir normas sem pé nem cabeça.
Se qualquer fala acima se encaixa na sua realidade ou na de alguma mulher que você conhece você tem o direito de ficar com raiva. Sentir raiva é importante. Se revoltar é importante. A raiva tem uma função importantíssima na sua saúde mental. Ela te mostra que algum limite foi transgredido, que uma injustiça foi cometida e que alguma necessidade sua não foi atendida. Quando nos deparamos com situações parecidas com algo que passamos ou que atinja pessoas que nos identificamos há a possibilidade disso nos machucar e nos enfurecer, por mais que não tenha acontecido diretamente conosco.
Reprimir a raiva pode empobrecer a saúde, diminuir a autoconfiança e o senso de valor próprio, além de aumentar sentimentos de mágoa e ressentimento. Esses sentimentos contribuem para que a raiva intensa seja experimentada em contextos não apropriados, podendo gerar consequências negativas a si mesma e aos outros.
Como então aprender a expressar a raiva saudavelmente?
- Aprenda a observar, reconhecer e validar suas emoções: desenvolva o hábito de perceber o que está sentindo, o que estimulou essas emoções, e mesmo que elas sejam desagradáveis, validá-las e acolhê-las.
- Agredir, ser assertiva e sentir raiva são coisas diferentes: muitas vezes ao expressar sua raiva ou necessidades você pode ficar insegura, recuar ao não se sentir levada a sério ou ainda acreditar que está passando dos limites. Defender suas ideias, necessidades e direitos não é ser agressiva, mas sim se sentir digna de respeito e cuidado como todos os outros. É se colocar em posição de igualdade.
- Seja corajosa: todas nós temos medo da rejeição e de não gostarem da gente. Abra mão de ser vista como “boazinha”, pois isso muitas vezes pode custar sua saúde mental, liberdade e autonomia.
- Cuide-se: autocuidado não é apenas corporal. Assuma o compromisso de se respeitar, estabelecer limites saudáveis em suas relações e buscar atender suas necessidades emocionais.
- Fique brava diante das injustiças: fazer isso de forma equilibrada pode impulsionar mudanças, aumentar sua autoestima e autoconfiança. Buscar ser assertiva é uma forma poderosa de canalizar a raiva sabiamente.
- Se engaje com pessoas semelhantes: faça parte de uma comunidade com valores parecidos com os seus e se una aos seus semelhantes. Juntas vocês poderão construir mudanças efetivas.
- Desafie estereótipos: pensamentos enrijecidos como “mulheres são muito emotivas e frágeis”. Você pode ser emotiva, forte, sensível e determinada ao mesmo tempo. Tudo isso te fará brilhante.
- Confie em outras mulheres: valide a raiva e revolta de outras mulheres. Apoie como for possível. Dê voz às mulheres que fazem parte da sua vida.
- Aceite o desejo de poder: não há nada de errado em você ser ambiciosa, querer ser rica, ter o próprio negócio, exigir respeito, ter seus sentimentos validados. Não existe um lugar predeterminado para você. Você pode ir e ser o que quiser e isso não diminuir os homens e pessoas ao seu redor, é ir atrás dos seus objetivos simplesmente porque você existe e é capaz.
Grandes mudanças foram impulsionadas pelo sentimento de revolta: o fim da segregação racial, da escravidão, o direito ao voto, mudanças em leis, constituições são alguns exemplos. Pensar em formas construtivas de lidar com a raiva e transformá-la em um meio de ação é poderoso para que mudanças em nossa sociedade aconteçam.
Com carinho,
Paula.