Todos nós temos um modo sobrevivência. Ele é ativado quando nosso cérebro interpreta que estamos em perigo e a partir desse momento ele faz de tudo para nos proteger. O modo sobrevivência está ligado às partes mais antigas da nossa mente, àquelas que permitiram a nossa sobrevivência na época das cavernas.
O cérebro humano como conhecemos hoje surgiu há cerca de 350 mil anos. Nessa época ativar o modo sobrevivência era literalmente questão de vida ou morte. Detectar as ameaças e buscar proteção e segurança era um perigo diário. Esses comportamentos nos fizeram sobreviver, mas nos dias de hoje podem fazer com que enxerguemos perigos onde não existem.
As emoções que comumente surgem quando esse modo é ativado são as que ativam o sistema de luta-fuga. Medo, ansiedade, raiva, aversão são os sinais de que sua cabeça está se sentindo ameaçada, com medo e buscando algo que gere segurança. Nessa busca você pode entrar no piloto automático, distorcer pensamentos, ter dificuldade em se conectar com as pessoas, e ter uma série de comportamentos para driblar essas emoções desconfortáveis que foram ativadas. É como se sua habilidade de refletir sobre seus pensamentos e emoções fosse desconectada e você passa a reagir às emoções sem pensar muito.
Nos dias de hoje esse sistema é ativado mesmo quando nossa sobrevivência não está em risco. Situações como um encontro, uma apresentação ou reunião no trabalho, uma discussão podem fazer você se sentir ameaçado e seu modo sobrevivência ser ativado. As experiências que você teve ao longo da vida, seu temperamento, personalidade irão influenciar o que te faz se sentir em perigo.
As áreas do cérebro que são responsáveis por essa ativação são o hipocampo, o neocórtex e a amígdala. Esta última é a mais antiga e ter consciência do que a ativa é praticamente impossível. Ela funciona de forma automática e com bastante rapidez. Então, em alguns momentos você pode sentir emoções relacionados ao seu modo sobrevivência e não conseguir identificar de onde aquilo surgiu, ou por que está se sentindo assim, e tá tudo bem.
Já o hipocampo e o neocórtex armazenam a parte cognitiva da ativação desse modo de funcionamento. Ou seja, as memórias traumáticas ao longo da nossa vida ficam nessas áreas, e quando estamos no modo sobrevivência podemos fazer generalizações achando que os traumas irão se repetir ou então pensamentos que surgiram nas situações passadas podem invadir a sua mente.
Desse modo fica mais de entender que seu modo sobrevivência envolve memórias, pensamentos, emoções, sensações corporais e comportamentos. Algumas emoções podem ser despertadas pela amígdala e você não identificar de onde elas vieram, mas todo o restante é possível de ser observado e modificado.
Diante disso tudo eu gostaria de te convidara refletir como é o seu modo sobrevivência e o que o ativa. Aqui vão algumas dicas. Pegue um papel e anote para aproveitar ao máximo a prática:
- Pense nos últimos 6 meses quais situações despertaram medo, raiva, ansiedade e aversão em você. Escreve sobre elas e observe suas emoções enquanto escreve.
- Quais foram os pensamentos que passaram na sua mente diante dessas situações? Quais interpretações você fez sobre si mesmo e sobre os outros?
- Você lembra de ter se sentido assim na sua infância ou adolescência? Situações de abandono, rejeição, violência, falta de afeto, podem dar ótimas pistas.
- Procure identificar nos e que situações você age sem pensar e acaba machucando os outros ou você mesmo.
- Quando você está com seu modo sobrevivência ativado, o que costuma fazer para lidar com as emoções difíceis? Aqui vão alguns exemplos: se isolar, gritar, focar excessivamente no trabalho, comer, chorar, dormir excessivamente, se preocupar em excesso, ter insônia, descontar nos exercícios físicos.
Uma curiosidade é que pesquisas recentes mostram que praticar meditação e Mindfulness (atenção plena) reduz a atividade da sua amígdala e do seu hipocampo, trazendo assim mais consciência e controle sobre as respostas diante das emoções desagradáveis. A autocompaixão também é um ótimo recurso para você acolher suas emoções de forma amistosa e responder menos impulsivamente a elas.
Que você sobreviva menos e viva mais.
Com carinho,
Paula.