Mudar a rota para a escola/trabalho, ter dificuldade de aceitar o toque de outras pessoas, dificuldade para dormir, comer, lembranças intrusivas, pesadelos, medo de sair de casa, interpretar situações que antes não eram nocivas como perigosas são sinais de que você está tendo dificuldades para superar algum trauma.
Recentemente, na segunda temporada da série Sex Education (alerta de spoiler!), a personagem Aimee passa por assédio sexual dentro do ônibus que a levava para a escola. Inicialmente ela tem dificuldade de entender que o que houve realmente foi uma violência, e age de maneira a negá-la, em uma espécie de distanciamento, ou até anestesiamento.
Após tomar ir a delegacia e prestar a queixa, quando chega em casa, Aimee é inundada por emoções e entra em contato com a sua dor. Aimee passa a não conseguir andar mais de ônibus, indo a pé para todos os lugares, também tem a sensação de ver o agressor no rosto de outras pessoas. Ela chega a terminar o namoro, pois não consegue mais se envolver intimamente com seu namorado. As memórias da agressão invadem sua mente de forma inesperada e geram reações de medo, pavor, ansiedade.
Todos esse sinais representam o que chamamos de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). A definição dessa doença surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos soldados sobreviventes apresentavam dificuldades enormes de se adaptarem a sua rotina após a guerra, apresentando sofrimento mental grave. Atualmente o TEPT é associado a viver ou testemunhar um evento traumático que envolva morte real ou ameça, lesão grave ou violência sexual. Grandes desastres como Brumadinho, Boate Kiss, desabamentos e deslizamentos de casas também podem ocasionar TEPT. Recentemente a Universidade Federal de Minas Gerais divulgou que nos sobreviventes do desastre de Mariana 82% dos jovens desenvolveram TEPT.
Desastres naturais, situações de calamidade pública, abuso sexual, assédio moral/sexual, bullying, relacionamentos abusivos, negligência, maus tratos, assaltos, discriminação são situações que podem desencadear TEPT. É possível também que outros tipos de sofrimento psicológico surjam, sem necessariamente ser TEPT, mas que estejam ligados ao trauma vivenciado.
Na clínica o TEPT pode aparecer de várias formas, inclusive em graus diferenciados de gravidade. Algumas pessoas não conseguem dormir devido ao medo de sonhar com o evento traumático, não conseguem passar perto do local que aconteceu, ou simplesmente sair de casa. Relatos que envolvem despersonalização também são comuns. É como se o corpo estivesse constantemente em alerta na tentativa de te proteger de um novo ataque. Em alguns casos a medicação é fundamental para ajudar no sono, nas lembranças intrusivas, na resposta à ameaça do corpo e para que o engajamento no tratamento psicológico aconteça.
E como a terapia pode ajudar nesses casos? Primeiramente é importante resgatar a identidade do cliente antes do evento traumático: como ele era/se sentia, quais planos tinha na vida, sua vida social dentre outros. Algumas técnicas como mapear as forças de caráter e assinatura, apresentação positiva, diária da gratidão, podem ajudar nesse período inicial.
No momento intermediário do tratamento, após fortalecimento do cliente, torna-se possível trabalhar as memórias traumáticas de maneira equilibrada, de forma a ressignificar as lembranças e trabalhar a raiva e culpa, que são comuns nos casos de TEPT.
Na etapa final do tratamento, além de fortalecer tudo que já foi construído, o cliente será estimulado a desabrochar em seu crescimento pós-traumático, criar planos para o futuro, desfrutar das emoções positivas, fortalecer suas relações e a comunicação, além de encontrar um propósito de vida.
A terapia pode ajudar o cliente a retomar o controle sobre suas emoções e recomeçar, levando os aprendizados após o trauma, e suavizando as dores . Quanto antes se tiver acesso ao tratamento adequado maiores são as chances de recuperação. Não desista de você. 🙂
Com carinho,
Paula.