Na busca desenfreada pela vida ideal, muitas vezes inspirada nas redes sociais, na ideia de que a vida dos outros é melhor, e que para nos sentirmos bem com nós mesmos, devemos ser melhores do que as pessoas a nossa volta, e ter um desempenho acima da média, passamos a perseguir uma vida livre de problemas, sem dores, dificuldades, preocupações, desgostos. Começamos a acreditamos que uma vida feliz, é uma vida onde só existem emoções positivas o tempo todo, onde as pessoas se sentem espetaculares da hora que acordam até a hora em que se deitam, e expõem seus belos sorrisos e momentos nas redes sociais. A crença de que essa vida existe e de que ela é atingível pode dificultar e muito a forma como lidamos com a nossa realidade, e principalmente com as nossas dores, inclusive contribuindo para a prolongação de nossos sofrimentos.
As dificuldades fazem parte da humanidade. Por vezes iremos nos deparar com situações desagradáveis das quais não temos nenhum controle, e em outros momentos podemos ter um controle sobre determinadas situações e ainda assim cometermos erros. Isso tudo faz parte do processo natural de vida. A dor existe, ela tem sua função em algumas circunstâncias, e em outras só nos resta aceitá-la e compreender que ela passará. A perda de um ente querido, a doença de um filho, uma traição, um casamento que acaba, uma amizade que chega ao fim, um carro que quebra em um dia corrido, o elevador do prédio que para de funcionar, dentre outras coisas em diversos graus de dificuldade.
O sofrimento surge nesse contexto, quando, diante das dificuldades, nos deparamos com as expectativas que possuíamos e com a realidade divergente dessas expectativas. Ficamos frustrados por as coisas não saírem conforme desejávamos e entramos em processos mentais de ruminação, ficamos tensos, excessivamente preocupados, trabalhando ou comendo demais, sentimos raiva, ficamos irritados, paralisados, ou ainda distraídos. O sofrimento surge da resistência aos processos dolorosos. Resistência essa que pode advir de crença da incapacidade de lidarmos com nossas dores ou que se não dermos a devida atenção às dores, elas irão desaparecer.
Sofrimento = dor x resistência.
Shinzen Young
Só que, as pesquisas mostram que quanto mais tentamos suprimir nossos pensamentos e sentimentos indesejados, mais forças eles ganham, podendo contribuir para um processo de adoecimento e queda significativa no bem-estar. Suprimir as emoções negativas, na verdade dificulta a experienciação de emoções positivas, satisfação com a vida, e de felicidade.
Como então diminuirmos o nosso sofrimento? Através do processo de aceitação. Duas coisas que podem te ajudar muito são o desenvolvimento da autocompaixão e a prática de mindfulness. A autocompaixão nos permite compreender que somos capazes de sermos bondosos com nós mesmos mesmo em situações de sofrimento. O mindfulness consiste em passar por esses processos dolorosos tendo consciência do que está acontecendo, e não negando as nossas experiências emocionais.
O primeiro passo é validar e reconhecer a sua dor. Entender o que você está sentindo, perceber como isso se desdobra em seu corpo e em sua mente, que pensamentos isso gera em você. Após isso se perguntar: o que eu posso fazer por mim agora? Como posso ser bondoso comigo nesse momento? Como posso me acalmar e me dar um pouco de carinho?
Esse processo não é repentino, e requer uma prática ativa dessas reflexões, porém te auxiliará a evitar sofrimentos desnecessários, e passar por situações difíceis com mais leveza. A jornada pode não ser fácil, mas você é capaz de acolher a sua dor e tornar a experiência mais leve e rica.
Vamos juntos nessa?
Com carinho,
Paula.