Querer fazer as coisas bem feitas e executar atividades com primor pode ser um tanto prazeroso. Quem não gosta de depois de terminar uma tarefa, olhá-la e ter a certeza que você deu o seu melhor e que conseguiu cumprir com aquele objetivo? Todos nós amamos essa sensação!
O problema começa quando a necessidade de fazer as coisas com perfeição se torna uma obrigação, onde quando isso não é possível, ficamos estressados, desgastados emocionalmente, ansiosos e angustiados. Ser excelente se torna uma obrigatoriedade e a possibilidade de não conseguir alcançar esse padrão vira um tormento.
O perfeccionismo é uma forma de evitar a crítica e o julgamento dos outros. Um escudo contra os duros julgamentos que podem fazer em relação ao seu trabalho, seu comportamento, sua forma de se vestir e se apresentar, dentre outras coisas. Afinal quando executamos as coisas com perfeição o que acontece? Somos aplaudidos (nem sempre), reconhecidos, evitamos constrangimentos, críticas, sentimento de culpa, e obtemos a validação dos outros. É como se quando agíssemos com perfeição as pessoas “não tivessem o que falar de nós”. Esse conceito também está atrelado a transtornos mentais como depressão, ansiedade, compulsão.
A armadilha do perfeccionismo começa a ruir quando nos damos conta que o que é perfeito passa pelo crivo subjetivo e que a perfeição é um conceito baseado na vivência de cada um. O que é perfeito para mim, não necessariamente é perfeito para você. E aí vem a pergunta de um milhão de reais: a perfeição existe? Por que perseguimos tanto esse ideal?
Existe uma autora que desenvolve muito bem esse tema: Brené Brown. Dentre os temas que ela estuda estão a vergonha, imperfeição e a vulnerabilidade. Você pode assistir a uma de suas palestras mais famosas clicando aqui. Em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito, Brené relata suas pesquisas acadêmicas sobre o perfeccionismo pontuam que por nutrirmos o sentimento de que não somos bons o suficiente, acabamos por nos apegar ao perfeccionismo esperando que quando o atingirmos essa sensação desapareça. O perfeccionismo passa a ser uma fuga ao sentimento de que não somos bons o suficiente em algo.
Além do mais, ser perfeito e bom o bastante evita com que tenhamos emoções desconfortáveis, nos sintamos inadequados. Se formos perfeitos e atuarmos de forma perfeita, não teremos culpa, não sentiremos vergonha nem seremos criticados e rejeitados. É a garantia do amor, amor-próprio e a amor do outro. Cria-se a falsa ideia de que o outro não poderá me rejeitar pois não terá motivos pra isso.
Aí esbarramos em outra crença importante por trás do perfeccionismo: a de que somos amados pelo que fazemos. Quando viemos de uma educação onde o amor e carinho são atrelados às conquistas, ao bom comportamento e ao desempenho, associamos amor ao que se faz e não ao que se é. E na busca por amor, em qualquer âmbito que seja, passamos a atuar de forma a alcançar esse amor. O afeto se torna conquista através de comportamentos tidos como desejáveis, perfeitos.
Acionar o mecanismo do perfeccionismo também tem um quê de querer controlar o mundo, a si mesmo e o outro. É como se executar o roteiro da perfeição fosse garantia de uma vida sem contratempos.
Ainda nessa grande teia que esse tema envolve temos outro componente bem interessante: a procrastinação. Quando somos muito exigentes e perfeccionistas, nos prendemos a detalhes e nos comportamos com o objetivo de querer evitar que o outro nos julgue ou nos critique. Isso pode gerar um grande desgaste, pois atividades tidas como simples podem se tornar complexas e sua mente se transformar e um turbilhão de emoções. Exemplos palpáveis são: revisar várias vezes o mesmo projeto, iniciar e refazer várias vezes uma atividade, se perder nos detalhes e perder prazos, não iniciar algo importante por saber o quão desgastante será para que a atividade atinja seu nível de exigência.
O perfeccionismo te deixa engessado, te impede de ser espontâneo e criativo, faz com que o medo de arriscar seja tão grande que você desiste de fazer coisas importantes pra você. Já parou pra pensar como o perfeccionismo tem impedido sua vida de fluir?
Que tal começar a desconstruir esse mito para viver uma vida mais leve e ousada?
Com carinho, Paula.
Excelente texto, Paula! É um desgaste terrível viver sob a batuta do perfeccionismo. Excelência, sim (com autocompaixão). Perfeccionismo, não.
Exatamente, Monique! E o oposto ao perfeccionismo não é o desleixo, mas sim a flexibilidade. Em breve vai sair um texto sobre isso. 🙂 Muito obrigada pela sua contribuição. 🙂