Em algum momento da vida, a maioria de nós se depara com perguntas difíceis como:
“Por que estou fazendo tudo isso?”,
“Será que minha vida realmente importa?”,
ou “Qual é o meu propósito?”
Essas perguntas são humanas. Não são sinais de fraqueza, mas de consciência. Questionar o sentido da vida pode parecer assustador, mas é também uma oportunidade de reconexão consigo mesmo.
Na psicologia contemporânea, especialmente na psicologia positiva existencial, pesquisadores como Michael Steger propõem que o sentido da vida é composto por três elementos centrais: coerência, propósito e significância.
Neste texto, vamos entender o que cada um desses elementos significa, e mais importante, como você pode reconhecê-los em sua própria vida.
1. Coerência: sua vida faz sentido para você?
A coerência está relacionada à forma como organizamos mentalmente a nossa história. Não se trata de controlar tudo o que acontece, mas de conseguir olhar para a vida e entender por que as coisas são como são.
É o oposto da confusão total. Quando vivemos com coerência, mesmo diante do caos, conseguimos encontrar alguma ordem subjetiva, uma narrativa que conecta as experiências vividas com quem somos hoje.
Como saber se você vive com coerência?
Tente refletir:
- Quando penso na minha vida até aqui, consigo perceber um fio condutor?
- Mesmo os momentos difíceis têm algum significado para mim?
- Sinto que minha história “faz sentido” quando a conto para mim ou para outras pessoas?
Se essas perguntas te parecem difíceis de responder, você não está sozinho(a). Muitas pessoas vivem no piloto automático, sem tempo ou espaço para processar suas experiências. E isso torna mais difícil encontrar coerência.
Como cultivar mais coerência?
🌀 Faça pausas para refletir. Escrever sobre sua trajetória, contar sua história para alguém de confiança ou até gravar áudios para você mesmo pode ajudar a construir sentido.
🧩 Permita-se integrar suas partes. Você não precisa ser uma coisa só. Pode ser contraditório, mudar de ideia, errar, e ainda assim ser coerente com quem é.
🔄 Busque entender seus ciclos. Quais padrões se repetem? O que você já superou? Como certas experiências moldaram sua visão de mundo?
Coerência não é rigidez, é flexibilidade com clareza. É o “entendo o que vivi e por que sou assim, e estou aberto(a) a me transformar”.
2. Propósito: o que te move?
O propósito é a sensação de que você está vivendo por algo maior que o momento presente. Pode ser uma causa, uma missão pessoal, uma contribuição para o mundo, uma meta, ou mesmo o cuidado com pessoas que você ama.
Ao contrário do que muitas promessas motivacionais vendem, o propósito não precisa ser grandioso, heroico ou definitivo. Ele pode ser pequeno, fluido e pessoal, desde que te mova de forma autêntica.
Como saber se você tem propósito?
Observe:
- O que te dá energia, mesmo quando está cansado(a)?
- Em quais momentos você sente que o que está fazendo tem valor real?
- Existe alguma ideia, causa ou projeto com o qual você se importa profundamente?
O propósito aparece nessas pistas. Ele está naquilo que te mobiliza, que te faz sair da cama mesmo em dias difíceis, que faz o tempo passar voando quando você está envolvido(a).
Como identificar ou construir seu propósito?
🌱 Volte-se para o que te emociona. Quais temas te tocam? O que te deixa indignado(a), inspirado(a), com vontade de agir?
🛠️ Teste coisas novas. O propósito não é uma revelação mágica, é uma construção. Ele se revela quando você experimenta, se envolve, erra, acerta e vai refinando o que faz sentido.
🔍 Observe sua história. Muitas vezes, o que nos machucou também nos ensina sobre o que queremos transformar no mundo. Experiências difíceis podem nos apontar propósitos futuros.
Você não precisa ter um único propósito para a vida. Pode ter vários ao longo do tempo, e tudo bem.
3. Significância: sua vida importa?
A significância está ligada à percepção de valor. É sentir que sua vida tem importância e dignidade, que sua existência faz diferença, ainda que para poucas pessoas, ainda que em detalhes pequenos.
Esse é um pilar profundamente afetado por experiências de rejeição, traumas, negligência emocional ou discriminações sociais. Quando crescemos ou vivemos em contextos onde não somos vistos ou validados, nossa sensação de valor pessoal pode se fragmentar.
Como saber se você vive com significância?
Reflita:
- Eu sinto que minha vida tem valor, mesmo que eu não esteja “produzindo” o tempo todo?
- Sinto que faço diferença para alguém ou para algo no mundo?
- Quando erro, ainda consigo me enxergar com compaixão?
A significância é abalada quando nos sentimos invisíveis, descartáveis ou indignos de amor. Mas ela pode ser reconstruída, e isso começa com a forma como você olha para si mesmo(a).
Como resgatar a significância?
💬 Valide sua própria existência. Reconheça suas emoções, necessidades e conquistas sem depender apenas da validação externa.
💞 Busque relações nutritivas. Conecte-se com quem te vê de verdade, com quem te acolhe e te respeita.
💡 Lembre-se: valor não se mede por produtividade, perfeição ou sucesso. Você é significativo(a) simplesmente porque existe.
E se eu não encontrar nenhum desses elementos?
Essa sensação é mais comum do que parece. Muitas pessoas estão tão sobrecarregadas, anestesiadas ou em sofrimento que não conseguem acessar o que as move, sustenta ou conecta.
Isso não significa que você está quebrado(a). Significa que precisa de apoio, tempo e espaço seguro para se escutar.
A psicoterapia é um desses espaços. Um lugar onde você pode reconstruir sua narrativa com mais coerência, redescobrir o que te move e aprender a se reconhecer com mais humanidade e valor.
Conclusão: sentido se constrói, passo a passo
Identificar o sentido da vida não é encontrar uma resposta pronta. É se permitir perguntar, e escutar as respostas que surgem com gentileza e curiosidade.
🧠 A coerência nos ajuda a entender quem somos e por que vivemos o que vivemos.
💫 O propósito nos dá direção e motivação para continuar.
💖 A significância nos lembra que nossa existência importa.
Se um ou mais desses pilares está frágil para você agora, lembre-se: o sentido da vida não é um destino final, mas uma prática cotidiana.
Você pode começar hoje, com uma pergunta sincera, uma pausa atenta, um pequeno gesto com significado.
Com carinho,
Paula.