Você já se pegou pensando:
“Talvez ninguém nunca me entenda de verdade…”
ou
“Será que sou difícil demais de amar?”
Se essas frases soam familiares, saiba que você não está sozinho(a). E mais do que isso: essas ideias não surgem do nada. Muitas vezes, elas têm raízes profundas em algo que costumava parecer “normal” — mas que, na verdade, deixou marcas invisíveis.
O que significa crescer sem acolhimento emocional
Crescer sem acolhimento emocional também pode ser definido tecnicamente como crescer em umm ambiente emocionalmente invalidante. Nesse ambiente suas emoções não são levadas a sério, são ignoradas, ridicularizadas ou tratadas como exagero. Isso pode acontecer de forma sutil ou explícita — em casa, na escola, ou em qualquer espaço onde você cresceu emocionalmente.
Não se trata necessariamente de pais abusivos ou frios. Às vezes, são pessoas bem-intencionadas, mas que não aprenderam a lidar com emoções — nem as próprias, nem as dos outros.
Você talvez tenha ouvido frases como:
- “Para de drama.”
- “Você é muito sensível.”
- “Isso não é motivo pra chorar.”
Ou pior: silêncio. Nenhuma resposta. Nenhum olhar.
Com o tempo, isso ensina a criança (e depois o adulto) que sentir é errado, inconveniente ou vergonhoso.
O que pode acontecer quando você cresce sem validação emocional?
Crescer sem validação emocional — ou seja, sem alguém que reconheça, acolha e ensine você a lidar com o que sente — pode deixar marcas profundas que continuam a influenciar sua vida adulta. Muitas vezes, essas consequências são sutis, silenciosas, mas estão presentes no seu jeito de sentir, reagir e se relacionar.
Veja algumas das possíveis consequências:
1. Dificuldade para entender o que sente
Você pode ter dificuldade em nomear suas emoções. Às vezes sente um “nó” no peito ou uma vontade de chorar, mas não sabe explicar por quê.
2. Vergonha ou culpa por sentir
Você pode se julgar por sentir raiva, tristeza ou insegurança, acreditando que está sendo fraco(a), dramático(a) ou “sensível demais”.
3. Busca constante por aprovação
Sem ter recebido validação suficiente na infância, é comum crescer tentando agradar todo mundo para se sentir aceito(a) e valorizado(a).
4. Medo de se abrir e ser rejeitado(a)
Você pode evitar mostrar suas emoções ou vulnerabilidades, com medo de ser incompreendido(a), ridicularizado(a) ou rejeitado(a).
5. Desregulação emocional
Sem ter aprendido a lidar com o que sente, as emoções vêm de forma muito intensa ou, ao contrário, parecem “desligadas” — como se você tivesse se desconectado de si.
6. Baixa autoestima e autocrítica
A sensação de “ser demais”, “sentir errado” ou “nunca estar certo(a)” pode afetar diretamente a sua autoestima e autoconfiança.
7. Dificuldade em confiar nos relacionamentos
Pode surgir uma expectativa constante de que os outros vão te abandonar, te julgar ou não dar conta do que você sente — mesmo que isso não seja verdade.
Essas consequências não definem quem você é. Elas mostram o que você precisou fazer para se proteger num ambiente onde não havia espaço emocional suficiente para você ser você.
A boa notícia? Tudo isso pode ser refeito, ressignificado e cuidado — com apoio, paciência e, muitas vezes, com a ajuda da psicoterapia.
Como isso afeta nossas crenças?
Quando crescemos nesse tipo de ambiente, aprendemos que nossas emoções não têm espaço. E, aos poucos, vamos construindo crenças silenciosas que moldam como nos vemos e como nos relacionamos com os outros.
Alguns exemplos de crenças comuns que surgem:
- “Ninguém nunca vai me entender.”
- “Tenho emoções demais, sou um peso.”
- “Se eu mostrar quem sou de verdade, vou ser rejeitado(a).”
- “Preciso esconder o que sinto para ser aceito(a).”
Essas crenças não são verdades — mas parecem verdades. E o mais cruel é que elas se tornam um filtro: você passa a enxergar o mundo por elas, mesmo quando alguém tenta te acolher ou compreender.
E o que isso tem a ver com a forma como você lida com as suas emoções?
Quando suas emoções foram ignoradas ou invalidadas por muito tempo, você pode não ter aprendido a nomear, compreender e lidar com o que sente. Isso é desregulação emocional.
Na prática, isso pode parecer assim:
- Você sente tudo “de uma vez só” e se culpa por reagir “demais”.
- Fica com raiva e depois se arrepende.
- Tem crises de choro ou ansiedade e não sabe de onde veio.
- Se sente “intenso(a) demais” ou “descontrolado(a)”.
- Ou, ao contrário, sente um vazio… como se tivesse perdido a conexão com o que sente.
Isso não significa que há algo de errado com você.
Significa que ninguém te ensinou como cuidar do que você sente — e isso é algo que pode ser aprendido.
Por que isso dói tanto nas relações?
Imagine alguém que aprendeu desde cedo que sentir era errado, que expressar tristeza ou raiva era “exagero”, e que chorar era motivo de vergonha. Agora imagine essa mesma pessoa tentando se conectar afetivamente com os outros.
Parece simples, mas não é.
Quando você não aprendeu a reconhecer e acolher suas emoções, fica difícil confiar no que sente — e, por consequência, fica ainda mais difícil confiar no que sente o outro. Isso impacta diretamente os relacionamentos.
Você pode:
- Se sentir carente demais e tentar se fundir com o outro, por medo de ser rejeitado(a).
- Ou, ao contrário, se afastar sempre que começa a se apegar, por medo de se machucar.
- Ter crises de insegurança, mesmo em relações estáveis.
- Sentir que “ninguém nunca vai te entender como você precisa”.
Tolerância à frustração e expectativas emocionais
Quem cresceu sem validação emocional muitas vezes não aprendeu a tolerar frustrações emocionais. Isso significa que:
- Pequenas decepções viram grandes dores.
- Uma resposta neutra do outro pode ser lida como rejeição.
- O silêncio vira abandono.
- A discordância vira ameaça.
Você pode se pegar esperando que o outro “adivinhe” o que você sente — porque você mesmo(a) nunca aprendeu a nomear essas emoções. E quando o outro não responde como você espera, a frustração vem intensa, desproporcional, porque toca na mesma ferida antiga: a de não ser compreendido(a).
Esses padrões não são culpa sua. Eles foram aprendidos como formas de defesa em um ambiente que não te ensinou a regular emoções nem a confiar nos vínculos.
Como a terapia ajuda a reconstruir esse caminho?
A terapia é o espaço onde você pode:
- Aprender a reconhecer e regular suas emoções com mais clareza.
- Trabalhar suas crenças de inadequação e medo do abandono.
- Desenvolver tolerância à frustração e comunicação emocional mais saudável.
- Criar relações mais seguras e verdadeiras — consigo e com os outros.
Com o tempo, você vai percebendo que:
- Sentir não te torna frágil.
- Expressar não é exagero.
- E que você pode ser amado(a) sem precisar se esconder.
Você não era demais. Faltou espaço.
Se você cresceu achando que sentir era errado, que o seu jeito era difícil ou que ninguém nunca vai te amar de verdade… talvez o que tenha faltado não foi amor, mas um ambiente onde o amor pudesse ser sentido.
Você merece esse espaço.
Você merece cuidado.
Você merece aprender, com calma, que sentir é seguro — e humano.
🧡 Se esse texto tocou algo em você, talvez seja hora de olhar para essa dor com gentileza. A terapia pode ser esse recomeço.
Com carinho,
Paula