Você já percebeu como a mente adora revisitar aquele looping de “e se…?” — imaginando mil cenários ruins antes mesmo de você sair de casa? Esse hábito de rodar pensamentos sobre problemas futuros chama-se preocupação.
O que é preocupação?
Preocupação é aquele diálogo interno que surge quando imaginamos problemas futuros e vamos “ensaiando” maneiras de lidar com eles. Em doses moderadas, pensar adiante pode até ajudar no planejamento. Mas quando a preocupação vira um turbilhão de “e se…?”, sem parar, ela deixa de ser útil. A preocupação excessiva é a base dos transtornos de ansiedade.
Por que a preocupação excessiva é prejudicial?
- Cansa mentalmente: seu cérebro fica preso em cenários alarmantes, sem caminhar para ações concretas.
- Aumenta o estresse: o corpo reage com tensão muscular, insônia e irritabilidade.
- Prejudica a concentração: torna difícil focar no presente e nas tarefas do dia a dia.
- Mantém o ciclo ansioso: o alívio que você sente ao se preocupar (por evitar imaginar imagens muito angustiantes) dura pouco, e logo a ansiedade volta ainda mais forte.
Qual a função da preocupação excessiva?
- Estratégia de controle: tentar prever e “se preparar” para ameaças futuras.
- Evitação emocional: concentrar-se em pensamentos verbais para não sentir emoções mais intensas, como pânico ou culpa.
- Reforço negativo: a sensação momentânea de alívio faz seu cérebro repetir o comportamento de se preocupar sempre que surgir desconforto.
Por que a incerteza alimenta as preocupações
Quando não sabemos o que vai acontecer, nosso cérebro soa o alarme interno: “Perigo à frente!” É o gatilho da intolerância à incerteza. Você se pega checando o celular a cada cinco minutos, ligando no consultório, pesquisando sintomas na internet… Tudo para tentar comprar uma garantia de segurança. Mas, na prática, quanto mais busca controlar, mais ansioso e exausto você fica — e a incerteza vira seu maior inimigo.
A preocupação e a intolerância à incerteza são como duas engrenagens que giram juntas num mesmo mecanismo ansioso. Quando sentimos que o futuro está cheio de “talvez” — seja aguardando um resultado, tomando uma decisão importante ou enfrentando um imprevisto — nosso cérebro interpreta esse “não saber” como sinal de perigo. É aí que nasce a preocupação: uma sequência de “e se…” que, na teoria, deveria nos preparar para o pior. Mas, na prática, esse ensaio mental só aumenta a tensão, porque nunca oferece garantias reais.
Quanto mais intolerantes nos tornamos à ideia de não ter controle absoluto, mais nos agarramos à preocupação como se ela fosse um escudo. E quanto mais nos preocupamos, mais diminuímos nossa capacidade de tolerar a incerteza — criando um ciclo em que o medo do desconhecido gera preocupação, e a preocupação reforça o medo do desconhecido. Essa relação mantém a ansiedade acesa, impedindo que aceitemos que, na vida, nem sempre temos todas as respostas — e que isso, apesar de desconfortável, não precisa ser perigoso.
O que é a intolerância à incerteza?
A intolerância à incerteza se manifesta pela dificuldade de aceitar que a vida nunca oferece garantias absolutas. Para quem vive com esse traço, o simples “não saber” deixa de ser apenas uma falta de informação e se torna uma ameaça.
No cotidiano, esse medo do desconhecido revela-se em comportamentos que, embora pareçam trazer algum alívio, acabam reforçando a própria ansiedade. Por exemplo, quem não tolera a incerteza costuma checar o celular ou e-mail a toda hora em busca de novidades, ou então ligar diversas vezes para confirmar compromissos e resultados (como exames médicos ou prazos de trabalho).
Outra estratégia comum é a evitação: adiar decisões importantes — seja uma mudança de emprego, o início de um curso ou até mesmo escolhas simples no supermercado — por medo de “escolher errado”. Há ainda quem recorra ao planejamento excessivo, criando listas infinitas e planos B, C e D para tentar controlar cada detalhe.
A busca incessante por opiniões externas também faz parte do ciclo: perguntar repetidamente a amigos, familiares ou especialistas se algo está “seguro” ou “certo” reforça a ideia de que, sem essa validação, tudo será perigoso.
Embora esses comportamentos possam aliviar momentaneamente o desconforto, eles mantêm a ansiedade em curso e impedem o desenvolvimento da autoconfiança necessária para lidar com o inesperado.
Como isso atrapalha a vida?
- Comportamentos de segurança: checar mensagens inúmeras vezes, buscar segundas opiniões e evitar decisões sem “certeza total”.
- Evitação de novas situações: recusar desafios por medo do desconhecido.
- Tensão constante: viver em estado de alerta, sempre esperando o pior.
Reconhecer esses padrões é o primeiro passo para aprender estratégias mais saudáveis de enfrentar a incerteza — e, assim, reduzir o impacto da ansiedade no dia a dia.
Como a ruminação reforça o ciclo
Enquanto a preocupação mira o futuro (“E se eu falhar na entrevista?”), a ruminação revisita o passado (“Por que fiz isso daquele jeito?”). Ambas são pensadas como soluções, mas apenas mantêm você preso:
- A preocupação não passa de ensaio mental — vagaroso, impreciso e improdutivo.
- A ruminação fica remoendo o que já passou, reforçando culpa e arrependimento.
Juntas, elas criam um ciclo em que você pensa demais, sente alívio momentâneo — e, logo, o desconforto retorna ainda mais forte.
Do looping ao alívio: desenvolvendo tolerância à incerteza
A boa notícia é que tolerar a incerteza é uma habilidade que se aprende. Aqui vão algumas dicas baseadas em técnicas que mais funcionam para essa finalidade:
- Diário das preocupações: Anote, por uma semana, cada vez que você se pegar pensando “e se…?”. Mais tarde, avalie quantas dessas previsões realmente aconteceram — a maioria não se concretiza!
- Exposição gradual ao desconhecido: Escolha pequenos desafios, por exemplo:
- Não checar mensagens por 2 horas.
- Usar um caminho diferente para o trabalho.
- Declarar um “não sei” em vez de buscar garantias.
- Experimentos comportamentais: Assuma o papel de detetive: observe o que sente e pensa a cada vez que se expõe à incerteza. Registre seu nível de ansiedade no início, no meio e no fim do experimento. Você verá que o desconforto tende a cair sozinho.
- Técnicas de ancoragem:Pratique a respiração consciente e traga atenção ao momento presente (“Mindfulness”). Isso ajuda a desviar o foco dos “e se” e ancorar você na realidade atual.
- Autocompaixão:Lembre-se: é humano não ter todas as respostas. Fale consigo mesmo como falaria com um amigo querido que também sente medo do desconhecido.
Você não está sozinho
Muita gente vive presa a esse ciclo de preocupação e ruminação. Mas é possível sim ter uma rotina mais leve, com a mente menos atormentada por cenários improváveis. O primeiro passo é aceitar a incerteza e praticar comportamentos que desafiem essa necessidade de controle.
Gostou das dicas? Compartilhe este texto com quem vive nesse looping mental e conte nos comentários: Qual comportamento você pretende experimentar primeiro para aumentar sua tolerância à incerteza?
Com carinho,
Paula.