Como é bom olhar para uma tarefa e ter aquela sensação de que ela está bem feita, não é? Estipularmos metas e conseguirmos atingí-las é muito importante para o nosso bem-estar e a nossa saúde mental. Atingir nossos objetivos ou estar diante de atividades que fazemos com primor, excelência, ajuda a termos sensação de controle, senso de competência e pode ajudar a nos sentirmos mais autoconfiantes. Mas e quando os padrões de exigência que nos estipulamos se tornam altos demais gerando angústia, ansiedade e sofrimento mental? O que podemos fazer para tornar esse fardo mais leve?
Primeiro é importante compreender o que você pensa sobre o perfeccionismo e como esse padrão de comportamento se mantém na sua vida. De uma forma rápida e prática, se imagine deixando uma tarefa incompleta, ou com algum erro. Quais são os primeiros pensamentos que passam pela sua cabeça ao imaginar esse cenário? Se você sofre de perfeccionismo disfuncional, provavelmente só de imaginar essa situação é provável que você tenha sentido algum desconforto. Mas o conteúdo dos seus pensamentos sobre esse cenário acima é super importante para a compreensão de como as suas crenças estão influenciando o seu comportamento.
A psicologia entende que o perfeccionismo disfuncional consiste no estabelecimento de níveis altos de exigência, expectativas altas e irreais e julgamentos severos em relação a si mesmo e aos outros. É muito comum pensar que quando não se é perfeccionista, estamos sendo desleixados ou preguiçosos. Ou ainda que:
- “Eu devo ser perfeito/a em tudo que faço”;
- “Se eu não for perfeito/a, serei um fracasso”;
- “O erro é inaceitável”;
- “Eu não sou digno/a de amor e aceitação, a menos que seja perfeito/a”;
- “Se eu não for perfeito/a, os outros vão me julgar e rejeitar”.
Além de exigir muito de si mesmo, o perfeccionismo disfuncional pode envolver a expectativa que acreditamos que os outros têm sobre eles mesmos e sobre nós (perfeccionismo socialmente prescrito), e as expectativas altas sobre os comportamentos dos outros (perfeccionismo orientado para os outros). No perfeccionismo socialmente prescrito existe a preocupação excessiva com a avaliação dos outros e o medo de ser julgada ou rejeitada se não atender às expectativas. Já o perfeccionismo orientado para os outros acontece quando esperamos que os outros se adaptem e sigam aos altos padrões de exigência que estipulamos.
Se tratando de sofrimento mental, é comum o perfeccionismo disfuncional aparecer associado a procrastinação, ansiedade, depressão, transtornos alimentares e transtornos obsessivos compulsivos, pois todos esses quadros apresentam de pano de fundo a inflexibilidade de crenças e/ou comportamentos. Não é que toda pessoa que sofre com o perfeccionismo disfuncional irá desenvolver um transtorno mental, mas em muitos transtornos mentais os traços de perfeccionismo são observados, ok?
Então como se libertar do perfeccionismo?
Como tudo em saúde mental é complexo, nesse caso também não é diferente. Para desenvolver uma relação saudável com o perfeccionismo é super importante desenvolver à tolerância à imperfeição. Em se tratando de treinar essa habilidade é importante que você, propositalmente, se coloque em situações onde essa tolerância seja testada. Você pode experimentar através de pequenos hábitos, como deixar uma coisa fora do lugar, fazer um slide no trabalho sem um ponto final, por exemplo. Deixar alguém que não tem os mesmos padrões de exigência que você conduzir uma atividade que você participa, e por aí vai. Deixar algo fora do lugar, não monitorar sua aparência com tanta rigidez, comer sem contar tanto as calorias… Tudo vai depender do que mais aguça o seu perfeccionismo.
Não será fácil, mas desafiar o perfeccionismo e qualquer outra crença que te cause sofrimento é poderoso em trazer mais leveza à sua vida. E aí, por onde você irá começar?
Com carinho,
Paula.